20.2.10

fotos de animais: Alpajares











Comentários à caminhada de: Calçada de Alpajares, Calçada dos Mouros ou Calçada do Diabo


Numa manhã tórrida de Agosto, dirigimos as nossas viaturas, até à Foz da Ribeira de Mós, ou Ribeira do Mosteiro, via Ligares. Foi uma caminhada inesquecível, porque a Ribeira de Mós, constitui um dos melhores locais nacionais, em termos paisagísticos, geológicos e ecológicos. Do alto da Serra de Ligares até Barca de Alva a vista é deslumbrante. O Alto Douro Vinhateiro em todo o seu esplendor, Património Mundial, onde se produzem os melhores vinhos do mundo, e o tão famoso Vinho do Porto. São socalcos e socalcos sem ter fim, emparelhados e erguidos pedra sobre pedra, com muito suor e trabalho durante várias gerações.


Da Foz da Ribeira tomámos a direcção de um caminho vicinal, e atravessámos a mesma num pontão. Ainda são visíveis os restos da antiga ponte romana, feita de seixos e xisto. Nas ladeiras adjacentes, plantações de amendoeiras, oliveiras e laranjeiras, estas por força do forte estio que se faz sentir na zona, estão praticamente secas. Também se observam muitas piteiras(figueiras palmeiras) e várias manchas de lodões, aliás umas das maiores da Europa. Lá no alto da Serra da Porreira, bandos de grifos empoleirados nas escarpas, esfomeados, à espera de sentir o odor a carne putrefacta, que lhe é colocada no alimentário do Penedo Durão. Aqui e ali quintas e casebres abandonados e moinhos de água com as paredes caídas. E, eis que chegámos ao início da Calçada.


Classificada em 1977 como “Imóvel de Interesse Público”, a Calçada de Alpajares, ou Calçada dos Mouros, como é conhecida localmente, integrava a via romana de carácter secundário que atravessava o Rio Douro, nas imediações da Barca de Alva e a Ribeira do Mosteiro, até ao planalto mirandês. Actualmente apenas alguns dos seus troços originais, visíveis perto da convergência das Ribeiras do Brita e do Mosteiro, a partir da qual se prolonga pela encosta de Alpajares de forma ziguezaguiante, até chegar ao muralhado do povoado (castro de São Paulo), edificado na Idade do Ferro no cimo do espigão sobranceiro, àquelas mesmas ribeiras, com testemunhos ocupacionais dos períodos Romano e Medieval. Estruturada ao longo de oitocentos metros em lajes afeiçoadas em xisto e gôgos (seixos) de pequena dimensão. A Calçada possui degraus intercalares com certa regularidade, entre três a quatro metros, apresentando-se ainda reforçada com uma parede lateral, na zona em que o declive da encosta se revela mais acentuado, designadamente nas curvas do traçado da via.


Parámos para retemperar forças e recompor o estômago. O Castro acabaria por ser reutilizado ao longo dos tempos, a atestar, no fundo, a pertinência da sua localização e a relativa abundância de recursos naturais imprescindíveis à normal subsistência das comunidades humanas, de modo, mais ou menos ininterrupto. Deste, avistam-se vários conjuntos de penedos, como o Muro da Abalona e o Picão da Ana (Picandano). As margens da Ribeira constituem um local privilegiado de observação das características da Formação Granítica e Quartzítica do Período do Ordovício e Câmbrico, que na região de Poiares, ocorre numa Megaestrutura Geológica conhecida por Sinclinal de Poiares. Integra um valioso conjunto de elementos que fazem parte do Património Geológico da região. Começámos a descer para a Ribeira pela Calçada de Santa Ana, em direcção à ponte feita nos anos 50. Aqui e ali poços de agua, repletos de rãs a saltitar à nossa frente, também local onde habitam lontras, barbos, bogas, escalos, enguias, cobras de agua, melros de agua, águia de boneli, bufo real, abutre do Egipto (britango), cegonha preta, etc. E assim chegámos às Alminhas. De seguida tomámos a estrada do Candedo até ao início da caminhada. Foram mais ou menos nove kms com dificuldade média alta.


Manuel Teixeira

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