Aproveitando a època natalícia para visitar a minha terra, a família e os meus amigos de infãncia, eu e a minha esposa decidimos sábado a seguir ao Natal fazer uma caminhada Freixo-Mós via quinta da Odreira. Este passeio foi muito interessante e ao mesmo tempo reconfortante, porque deu para aliviar o stress, respirar ar puro e principalmente recordar tempos da minha infãncia. Como é bom voltar ao passado relembrando coisas simples mas muito importantes para mim porque enchem de orgulho o meu ego e me avivam a memória. Rever aqueles montes, aquelas pedras, aqueles caminhos e principalmente a ribeira de Mós onde correm àguas límpidas, mansas e cristalinas onde não existe poluição e mau cheiro. Aqui e ali ouve-se o chilrear dos pássaros, de vez em quando saltam bandos de perdizes à nossa frente e a pêga de rabo azul esvoaça de ramo em ramo com o seu cantar característico.
Começámos o passeio no alto do Carrascal, donde se avista com toda a sua pujança e beleza a Vila de Freixo, conhecida pela Vila mais Manuelina de Portugal. Terra do poeta Guerra Junqueiro e do cronista do tempo dos descobrimentos Jorge Àlvares. Do lado nascente ergue-se com todo o esplendor o cabecinho de Nossa Senhora de Montes Hermos, erguida no seu altar parecendo abençoar todos os freixenos.
O percurso tem uma distãncia de 15 kms com uma duração de 3 hrs, com dificuldade baixa e na recta final com dificuldade média. Do lado nascente surge a serra de Freixo toda ela muito verdinha e ao fundo a nova barragem de abastecimento de água ao concelho. É no sopé desta mesma e vales limítrofes que nasce a ribeira de Mós serpenteando montes, vales e quintas como: a Chapa Cunha, os Vale de Fontes, o Pisão, Quinta de Santiago, Candedo e nesse Douro grandioso vai desaguar.
Ao chegar à Odreira na zona do marco jodézico detectámos várias pegadas de javalis, corsos, coelhos e perdizes. Passámos por várias plantações de amendoeiras e cerejeiras. Ao chegar à zona das casas fiquei muito triste por pensar que nos anos 60 e 70 viviam ali cerca de 50 pessoas e hoje só uma pessoa resta naquele aglomerado de casas. È uma pessoa de idade, veterano de guerra, alcoólico, mas que teima em não sair das suas quatro paredes em estado adiantado de degradação. No caminho que dá acesso á casa estão marcadas no chão pegadas de ferraduras do seu animal moar.
Quando começamos a descer para o Vale de Clérigos deparamo-nos com uma vista assaz deslumbrante. São montes e montes vestidos de estevas, giestas, carrasqueiras, amieiros, salgueiros e choupos. Nas zonas plantadas o que predomina são as amendoeiras, oliveiras, laranjeiras e videiras. Ao longe, no cimo do Vale do Carril já se avista Mós, Carviçais, Martim Tirado, o Cabeço da Mua, a serra do Reboredo e as quintas das Centieiras. Só de pensar que nos anos 60 eu e o meu saudoso Pai conhecido por Manuel Picóto palmilhávamos aqueles montes todos de lés a lés à caça das perdizes, lebres, coelhos e raposas. Para ele aqui fica a minha homenagem, como bom pai que foi. Se não fosse ele, agora não estaria aqui a escrever estas letras.
Entretanto chegámos à ribeira, com o novo pontão inaugurado recentemente. Na minha opinião talvez seja a ribeira mais selvagem de Portugal onde a natureza ainda se encontra intacta. Nesta nidifica ainda a garça preta e cinzenta, o melro de água,o bufo corujão e o milhafre. Nas suas águas podem-se encontrar bogas, barbos, escalos e enguias. Nesta zona também chamada Moinho da Ponte, existia antigamente uma estalagem e uma ponte romana. Começámos a subir a calçada de Mós ou Calçada Romana, segunda reza a história esta também seria um dos caminhos de Santiago.
E chegámos a Mós já à tardinha, o gelo a cair e os fumos a sair das casas pintadas de branco com os seus cheiros gostosos. É um quadro digno de se ver e rever.
Verso dedicado à minha terra natal
Mós minha linda aldeia,
Antiga vila medieval.
A norte fica a Vreia,
E a sul o Carrascal.
Manuel Teixeira